A bailarina e coreógrafa Marina Tenório conta o processo criativo da instalação-performance “Composição para Esculturas e um Corpo”, trabalho desenvolvido em parceria com a artista plástica Néle Azevedo. Na obra, Marina se movimenta entre as esculturas de gelo que, inicialmente, remetem a estabilidade e morte, mas conforme passam pelo processo de derretimento, caminham para a ideia de vida. O corpo e o gelo, sempre em transformação, revelam, assim, a fragilidade de ambos.
Marina nasceu em Moscou em uma família russo-brasileira e sempre transitou entre os dois países. Formada em direito pela Universidade de São Paulo, estudou teatro em Moscou com o director Anatoli Vassiliev e, no mesmo período, trabalhou com o coreógrafo e dançarino japonês Min Tanaka. Mais tarde, a artista teve o título de mestre em coreografia pela HZT, em Berlim. Atualmente, desenvolve trabalhos autorais em dança e teatro, além de se dedicar à tradução literária.
No caderno da artista plástica Néle Azevedo é possível encontrar desde equações matemáticas até cenas de filmes. “Eu sou muito atravessada pela experiência das ruas e do cotidiano. Anoto trechos de músicas, movimentos de pessoas que vi dançando e tudo aquilo que me tira do normal – quer dizer, eu não sei bem o que seria esse normal – mas é desse caldo que construo alguma ideia”, afirma em entrevista ao Sesc Campinas.
Diferente do trabalho “Movimento Mínimo”, no qual as esculturas ficam no chão, em “Composição para Esculturas e um Corpo” os corpos-gelo ficam pendurados em fios de nylon, como apresentado na Bienal Sesc de Dança 2017 .
A artista mineira, que realizou intervenções urbanas e exposições em países como Peru, Chile, Irlanda, Holanda, Itália, França, Portugal e Inglaterra, começou esta nova obra em 2013, apesar de suspender as esculturas desde 1997. “Eu trabalhava passo por passo, deixava de lado, às vezes, e assim as referências iam se completando”, diz. Ela afirma que trabalha muito e produz pouco. “Eu sou muito porosa, então leva tempo para as coisas tomarem forma. Eu sofria, porque me cobrava demais, mas agora estou acostumada”.
Os corpos esculpidos pela artista tinham o propósito de procurar um lugar no mundo, estado que só foi possível a partir da suspensão e do derretimento. “Olhando para o passado eu me dei conta de que este corpo não tinha um lugar. Cada escultura era alongada ou pela metade. A partir dessa reflexão eu percebi que ao dissolver este corpo eu havia encontrado um lugar para ele”.
Néle nunca mais esculpiu depois dessa percepção. “Eu fiquei mais de 10 anos sem conseguir fazer um corpo, porque ele não tinha mais sentido, mas nesse desaparecimento eu encontrei no mundo um lugar também para mim”.
Composta por 6 episódios, a web série traz entrevistas com artistas que apresentaram trabalhos autorais Bienal Sesc de Dança 2017. O projeto foi idealizado por Cláudia Müller, artista e pesquisadora de dança, e realizado em parceria com a equipe de Comunicação do Sesc Campinas.
O quarto episódio traz Adilso Machado, que fala do trabalho “Solidão Pública”. Assista a partir de 20/08 às 18h, aqui no Ponto Digital.
Texto: Lizandra Perobelli, Estagiária de Comunicação – Sesc Campinas.
Edição: Fernando Bisan, Editor web – Sesc Campinas.