A dança contemporânea saiu da caixa preta durante a Bienal. E foi na contracenação com as praças e espaços públicos que muitos espetáculos e performances trouxeram a cidade de Campinas para dentro da programação do festival.
Realidades incômodas viraram pauta de alguns trabalhos e a memória dos territórios serviu de base para que a dança não ficasse descolada da vida campineira.
Campinas foi a última cidade do Brasil a abolir a escravidão e suas ruas, sobretudo do centro histórico, parecem carregar essa herança na aglomeração dos moradores de rua, no desconforto de quem passa apressado e nos edifícios históricos, em sua maioria erguidos por mãos negras.
Revelar essas memórias que não querem ser escutadas e ocupar os palcos à céu aberto da cidade foi a escolha de 10 trabalhos, que colocaram à mostra o movimento que entrelaça a vida das pessoas que habitam espaços públicos.
Mas chegar e apresentar um trabalho na praça não basta. A dança dos corpos na cidade continua a cada dia. E talvez o trabalho dessas performances seja justamente aumentar a empatia de quem passa com quem fica. “Como um corpo performativo pode dar ainda mais sensibilidade para as pessoas poderem ver o espaço em um outro tipo de perspectiva?”, pergunta a coreógrafa Lucía Nacht.
Botar o corpo na rua foi a proposta da residência Monumentos em Ação, que durante 7 dias propôs um diálogo da performance com a Praça Rui Barbosa, a rua 13 de maio e a Catedral Metropolitana de Campinas. Ao final, os 10 performers selecionados para participar do trabalho se apresentaram para o público do festival e para os transeuntes do centro da cidade.
“O espaço da memória é o homem e não o monumento. Se o monumento não for ativado a partir da reflexão, é simplesmente uma figura sem vida. Somos responsáveis por dar vida à memória, rever nosso passado para encontrar novas respostas sobre nosso presente”, afirma a diretora argentina Lucía Nacht.
Texto e vídeo: Brenda Amaral, editora web do Sesc Bom Retiro.
Edição de texto: Fernando Bisan, editor web do Sesc Campinas.