Gente é pra dançar, não pra passar fome

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Editoria Ponto Digital

21.09.2019

A dança contemporânea saiu da caixa preta durante a Bienal. E foi na contracenação com as praças e espaços públicos que muitos espetáculos e performances trouxeram a cidade de Campinas para dentro da programação do festival.

Realidades incômodas viraram pauta de alguns trabalhos e a memória dos territórios serviu de base para que a dança não ficasse descolada da vida campineira.

Rir – Intervenção Segundo Movimento. Foto: Juliana Hilal.

Campinas foi a última cidade do Brasil a abolir a escravidão e suas ruas, sobretudo do centro histórico, parecem carregar essa herança na aglomeração dos moradores de rua, no desconforto de quem passa apressado e nos edifícios históricos, em sua maioria erguidos por mãos negras.

Revelar essas memórias que não querem ser escutadas e ocupar os palcos à céu aberto da cidade foi a escolha de 10 trabalhos, que colocaram à mostra o movimento que entrelaça a vida das pessoas que habitam espaços públicos.

Mas chegar e apresentar um trabalho na praça não basta. A dança dos corpos na cidade continua a cada dia. E talvez o trabalho dessas performances seja justamente aumentar a empatia de quem passa com quem fica. “Como um corpo performativo pode dar ainda mais sensibilidade para as pessoas poderem ver o espaço em um outro tipo de perspectiva?”, pergunta a coreógrafa Lucía Nacht.

Arrastão. Foto: Juliana Hilal.
Dentro. Foto: Juliana Hilal.

Botar o corpo na rua foi a proposta da residência Monumentos em Ação, que durante 7 dias propôs um diálogo da performance com a Praça Rui Barbosa, a rua 13 de maio e a Catedral Metropolitana de Campinas. Ao final, os 10 performers selecionados para participar do trabalho se apresentaram para o público do festival e para os transeuntes do centro da cidade.

“O espaço da memória é o homem e não o monumento. Se o monumento não for ativado a partir da reflexão, é simplesmente uma figura sem vida. Somos responsáveis por dar vida à memória, rever nosso passado para encontrar novas respostas sobre nosso presente”, afirma a diretora argentina Lucía Nacht.


Texto e vídeo: Brenda Amaral, editora web do Sesc Bom Retiro.
Edição de texto: Fernando Bisan, editor web do Sesc Campinas.

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