Os trabalhos normais da Bienal

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Editoria Ponto Digital

18.09.2019

Durante cinco dias da semana, das 10h às 19h, a artista e coreógrafa Cláudia Muller veste um uniforme, senta-se à mesa de escritório e desempenha uma tarefa repetitiva por oito horas, parando apenas para o almoço, pontualmente, das 14h às 15h. No broche fixado à blusa cinza, lemos: “Trabalho Normal”. 

Foto: Juliana Hilal

De fato, quem a encontra na área de Convivência do Sesc Campinas, no meio do caminho entre o restaurante e a piscina, pode facilmente confundir a artista com um funcionário normal da instituição. Uma ambiguidade que Cláudia abraça: “Queria ficar nesse ‘entre’. Tem gente que nem olha para o que eu estou fazendo e vem direto me perguntar onde é a piscina, como faz carteirinha”. 

Foto: Juliana Hilal

Para além da proximidade com as pessoas que circulam pelo espaço, a surpresa foi o surgimento de novas relações com os colegas temporários. “Eu fui descobrindo que esse trabalho era também para os funcionários, que ficam comigo a maior parte do tempo. Tem essa identificação imediata – ‘eu entendo que você está trabalhando por causa dessa carga horária, porque você não pode sair daí. Você tem regras muito claras e eu também”.  

Foto: Juliana Hilal

Na Bienal de Dança, a aproximação aconteceu ainda na fase de preparação para o primeiro dia, quando Cláudia enxuga um grande bloco de gelo. “Lá pela terceira vez que apareci na cozinha, todo mundo já me conhecia: ‘Ah, a menina do gelo!’. Quando eu fui retirar o bloco, todas as funcionárias queriam tirar foto comigo. Estavam orgulhosas de terem produzido um objeto cênico e muito preocupadas se tinha dado certo porque sabiam da importância que tinham para a performance acontecer”.

Foto: Theo Dubeux

E como não poderia deixar de ser, o Trabalho Normal de Claudia Muller também atravessou o nosso trabalho como editores web do Sesc São Paulo, na tarefa de produzir conteúdos e fazer a cobertura da Bienal aqui no Ponto Digital. 

Começamos a nos perguntar, afinal, quem são os outros trabalhadores “normais” da Bienal? Como eles contribuem para que ela aconteça? De tão normais, tornam-se invisíveis?

[Cabe um parenteses aqui pra dizer que artistas podem ser trabalhadores normais, como a própria Cláudia defende. Mas é que o trabalho deles, nessas ocasiões, já ganha atenção.] 

Além de envolver todos os funcionários do Sesc Campinas, a Bienal de Dança trouxe à cidade dezenas de profissionais de outras unidades do estado, mobilizando centenas de prestadores de serviços – da infraestrutura à iluminação, da fotografia ao transporte.

Para mostrar os personagens que trabalham fora dos palcos, apresentamos os Trabalhos Normais da Bienal, série que derivou da performance Trabalho Normal de Cláudia Müller. O primeiro episódio é com Zé Eduardo Ruiz, responsável pela produção técnica.

Acompanhe a série e conheça o cotidiano do festival para além das apresentações!


Texto: Cris Komesu, editora web do Sesc Digital e trabalhadora normal.
Edição: Fernando Bisan, editor web do Sesc Campinas e trabalhador normal.
Consultoria: Luciane Ramos-Silva, artista, pesquisadora, curadora das ações formativas e trabalhadora normal.

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